eu e MC vivemos grandes aventuras no passado, sim desde esse passado onde as pessoas perdem os dentes da frente e ainda assim não acham que o mundo vai desabar por os terem perdido...
o nosso avô era uma pessoa do outro mundo com uma personalidade do outro mundo que provávelmente irá ser "matéria" para muitos outros posts.
Professor primário, missionário, tendo crescido num seminário era estranhamente viciado ou fanático na sua religião"beato" se é que a palavra existe no masculino(estranho, tendo em conta que tendemos a odiar tudo aquilo a que nos obrigam)
...nós, ainda no tempo dos "walkmens"de bandolete ouviamos k7's com gravações das spicegirls ou dos backstreetboys, ou na versão portuguesa artistas cujo tempo fez o favor de apagar "milenium"... "nonstop" e mais não digo...enquanto isto Sr.Professor Pompeu, como era conhecido por todos, estava a pé mal o sol nascia, de headphones nas orelhas a ouvir sucessivos salmos na viajem de autocarro que o levava até à igreja, como hoje eu ouço "religiosamente" sucessivos podcasts da "caderneta de cromos" do no rádio do carro.
Nós, pequenitas mas já de pepino torcido descobrimos um dia que o nosso imenso jeito para cantar e improvisar sobre coisas que não lembra ao diabo, davam para ficar quase imortalizadas em k7's no rádio tijolo, e como não abonava o dinheiro para k7's(nesta altura abona o dinheiro para tudo quanto é doce e porcaria, menos k7's) roubávamos "os editoriais do avô"
lembro-me de uma imensa estante na escrivaninha dele,quase sem fundo, onde arquivava religiosamente(no verdadeiro sentido da coisa) todos os salmos missas e coisas cujo o nome nunca soube, com datas, marcações douradas em autocolante(deviam ser os salmos mais preciosos), pois é...e aqui começa a parte "má" da historia, elas(k7's) eram tantas que a pouco e pouco começamos(sem que ele desse por nada) a surripiar algumas delas para as nossas imensas gravações que julgamos um dia tornarem-se famosas.
Começamos pelas mais antigas, cujas capas eram sugestivamente coloridas e a qualidade tão manhosa que a gravação supostamente sobreposta fundia-se com a missa, e às tantas davamos por nós a cantar " if you wanna be my lover...lalalala" sobre um "ide em paz e que o senhor voz acompanhe..." todo este embroglio ainda com um som estranho que mais parecia fazer crer que a gravação era realizada algures num submarino afundado à muitos anos....e assim se passou até encontrarmos as tão valiosas TDK que mesmo com" protecção anti-netinhas"(entenda-se, a protecção sofisticadissima de partir as pecinhas dos lados para que não fosse possivel gravar por cima) não adiantava nada, pois a nossa veia da pirataria já tinha desenvolvido os seus truques, nomeadamente os de tapar buraquinhos com papel e fita-cola.
*Ele dava sempre por falta de uma ou duas das suas milhentas k7's (consoante o tempo que tínhamos disponível da sua ausência em casa ), tudo acabava com um rabugento "Safadas, já andaram aqui a tirar-me cássetes!!!!" e nós, que na altura não nos ocorria fugir de casa, ficávamos simplesmente escondidas atrás de um sofá cujo forro das costas tinha alfinetes e agrafos que nos picavam, que parecia ser o castigo perfeito por ter feito a asneira, toda uma teoria podia ser criada à volta disto... no ponto de vista religioso era a nossa espécie de coroa de espinhos, ou auto-flagelação.
Em memória do avô, que tantas gargalhadas nos fez e ainda nos faz dar fica aqui este post sobre um dos piores ataques de delinquência, ou rebeldia de pré- adolescência de que um avô pode ser vítima.
(este gravador era igual ao do avô, mas tinha a particularidade de ter uma capa de pele com uma alça para o ombro e as teclas nunca as conheci brancas, era um dos acessórios que viajava com ele até Fátima).
* esta parte foi uma imensa falha minha... tanto escrevo que acabo por me esquecer sempre de um pormenor e este era grave ;), valha-me a MC para me avivar a memória, quando formos velhinhas podemos auxiliar-nos uma a outra desta forma.
o nosso avô era uma pessoa do outro mundo com uma personalidade do outro mundo que provávelmente irá ser "matéria" para muitos outros posts.
Professor primário, missionário, tendo crescido num seminário era estranhamente viciado ou fanático na sua religião"beato" se é que a palavra existe no masculino(estranho, tendo em conta que tendemos a odiar tudo aquilo a que nos obrigam)
...nós, ainda no tempo dos "walkmens"de bandolete ouviamos k7's com gravações das spicegirls ou dos backstreetboys, ou na versão portuguesa artistas cujo tempo fez o favor de apagar "milenium"... "nonstop" e mais não digo...enquanto isto Sr.Professor Pompeu, como era conhecido por todos, estava a pé mal o sol nascia, de headphones nas orelhas a ouvir sucessivos salmos na viajem de autocarro que o levava até à igreja, como hoje eu ouço "religiosamente" sucessivos podcasts da "caderneta de cromos" do no rádio do carro.
Nós, pequenitas mas já de pepino torcido descobrimos um dia que o nosso imenso jeito para cantar e improvisar sobre coisas que não lembra ao diabo, davam para ficar quase imortalizadas em k7's no rádio tijolo, e como não abonava o dinheiro para k7's(nesta altura abona o dinheiro para tudo quanto é doce e porcaria, menos k7's) roubávamos "os editoriais do avô"
lembro-me de uma imensa estante na escrivaninha dele,quase sem fundo, onde arquivava religiosamente(no verdadeiro sentido da coisa) todos os salmos missas e coisas cujo o nome nunca soube, com datas, marcações douradas em autocolante(deviam ser os salmos mais preciosos), pois é...e aqui começa a parte "má" da historia, elas(k7's) eram tantas que a pouco e pouco começamos(sem que ele desse por nada) a surripiar algumas delas para as nossas imensas gravações que julgamos um dia tornarem-se famosas.
Começamos pelas mais antigas, cujas capas eram sugestivamente coloridas e a qualidade tão manhosa que a gravação supostamente sobreposta fundia-se com a missa, e às tantas davamos por nós a cantar " if you wanna be my lover...lalalala" sobre um "ide em paz e que o senhor voz acompanhe..." todo este embroglio ainda com um som estranho que mais parecia fazer crer que a gravação era realizada algures num submarino afundado à muitos anos....e assim se passou até encontrarmos as tão valiosas TDK que mesmo com" protecção anti-netinhas"(entenda-se, a protecção sofisticadissima de partir as pecinhas dos lados para que não fosse possivel gravar por cima) não adiantava nada, pois a nossa veia da pirataria já tinha desenvolvido os seus truques, nomeadamente os de tapar buraquinhos com papel e fita-cola.
*Ele dava sempre por falta de uma ou duas das suas milhentas k7's (consoante o tempo que tínhamos disponível da sua ausência em casa ), tudo acabava com um rabugento "Safadas, já andaram aqui a tirar-me cássetes!!!!" e nós, que na altura não nos ocorria fugir de casa, ficávamos simplesmente escondidas atrás de um sofá cujo forro das costas tinha alfinetes e agrafos que nos picavam, que parecia ser o castigo perfeito por ter feito a asneira, toda uma teoria podia ser criada à volta disto... no ponto de vista religioso era a nossa espécie de coroa de espinhos, ou auto-flagelação.
Em memória do avô, que tantas gargalhadas nos fez e ainda nos faz dar fica aqui este post sobre um dos piores ataques de delinquência, ou rebeldia de pré- adolescência de que um avô pode ser vítima.
(este gravador era igual ao do avô, mas tinha a particularidade de ter uma capa de pele com uma alça para o ombro e as teclas nunca as conheci brancas, era um dos acessórios que viajava com ele até Fátima).